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Se hoje arrastar janelas com o mouse é quase instintivo, por trás das cortinas do computador existe um poder bruto e preciso: a interface de linha de comando (CLI). Ali, não há atalhos visuais ou menus: você fala diretamente com o sistema, digitando instruções exatas. Essa disciplina transforma operações vagas em comandos inequívocos e, embora intimide no início, recompensa com velocidade, automação e controle absoluto.
“Nos dias da interface de linha de comando, os usuários eram todos Morlocks que tinham que converter seus pensamentos em símbolos alfanuméricos e digitá-los, um processo extremamente tedioso que eliminava toda a ambiguidade, desnudava todas as suposições ocultas e punia cruelmente a preguiça e a imprecisão.”
— Neal Stephenson, No começo… era a linha de comando
1. Por que Aprender a CLI?
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Agilidade: Atalhos de teclado e scripts podem executar tarefas repetitivas em segundos.
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Automação: Shell scripts combinam comandos em pipelines e loops, criando rotinas complexas que seriam cansativas no modo gráfico.
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Consistência: Bash, zsh, PowerShell… todos compartilham conceitos de redirecionamento, variáveis e permissões.
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Acesso Remoto: Servidores Linux sem interface gráfica só aceitam SSH — e isso requer CLI.
2. Componentes Fundamentais
2.1 O Shell vs. o Terminal
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Terminal: emulador gráfico (janela) que exibe texto e recebe suas entradas.
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Shell: programa (bash, zsh, cmd.exe, PowerShell) que interpreta seus comandos.
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No macOS e Linux, o shell padrão hoje costuma ser o zsh ou bash; no Windows, PowerShell ou Prompt de Comando, mas recomendo usar shells Unix via WSL (Windows Subsystem for Linux).
2.2 Usuários e Caminhos
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Cada usuário tem um home directory:
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Windows:
C:\Users\daniel
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macOS:
/Users/daniel
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Linux:
/home/daniel
-
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Caminhos absolutos começam na raiz (
/
no Unix;C:\
no Windows) e sempre apontam ao mesmo lugar. -
Caminhos relativos se esforçam a partir do diretório atual, usando
.
(pasta atual) e..
(pasta pai).
2.3 Privilégios e o Poder do sudo
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Usuários comuns operam com permissões limitadas.
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Root (Linux/macOS) ou Administrador (Windows) pode tudo.
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Prefixar comandos com
sudo
eleva sua permissão temporariamente — cuidado, pois um erro pode danificar o sistema!
3. Primeiros Passos no Terminal
3.1 Abrindo um Terminal
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Windows (WSL): instalar Ubuntu via
wsl --install -d Ubuntu
no PowerShell administrador. -
macOS: Aplicativos → Utilitários → Terminal.
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Linux: tecla Super (Windows) → “Terminal”.
3.2 Navegação e Listagem de Arquivos
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pwd
— mostra o diretório atual. -
ls
— lista arquivos;ls -a
exibe os ocultos;ls -lh
mostra tamanhos “legíveis”. -
cd pasta/
— muda parapasta
. -
cd ~
— vai ao seu home;cd ..
— sobe um nível.
3.3 Redirecionamento de Entrada e Saída
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curl https://netcattest.com
— baixa HTML ao terminal. -
curl https://netcattest.com > página.html
— salva em arquivo (>
redireciona saída). -
cat arquivo.txt
— exibe conteúdo texto puro; não use em binários (imagens, vídeos).
4. Truques do Dia a Dia
4.1 Autocompletar com Tab
Comece a digitar um comando ou nome de arquivo e pressione TAB para que o shell complete automaticamente — ganhe tempo e evite erros de digitação.
4.2 Edição de Linha
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← →: movimenta o cursor.
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Ctrl +A / Ctrl +E (ou HOME/END): vai ao início/fim da linha.
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↑ ↓: navega pelo histórico de comandos.
4.3 Tratando Espaços e Caracteres Especiais
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Se um nome contém espaços, envolva-o em aspas:
ls "Meus Documentos" |
Ou escape espaços com \
: