
Neste Artigo
“Imagine viver em um país em guerra, com sanções internacionais, inflação nas alturas… e de repente ver os poucos lucros que você acumulou em criptomoedas simplesmente sumirem. Não foi um bug. Foi um ataque.”
O Começo de Tudo: Um Inimigo Invisível e Mortal
Na madrugada do dia 17 de junho de 2025, sistemas bancários iranianos começaram a falhar. Terminais de caixas eletrônicos deixaram de funcionar, plataformas de internet banking não carregavam, e agências amanheceram offline. No dia seguinte, enquanto a confusão ainda tomava conta do país, uma das principais exchanges de criptomoedas do Irã, a Nobitex, saiu do ar sem qualquer explicação imediata. Horas depois, o golpe final: mais de 90 milhões de dólares em criptoativos haviam sido “queimados” intencionalmente destruídos e enviados para carteiras inacessíveis.
Esse não foi um ataque de ransomware. Não houve pedido de resgate. Ninguém exigiu um centavo. Foi algo muito mais profundo, muito mais simbólico.
Foi um recado.
Foi uma operação de guerra cibernética em estado puro, comandada por um grupo já conhecido por suas ações cirúrgicas e altamente políticas: o Predatory Sparrow.
Quem É o Predatory Sparrow?
Chamado em persa de Gonjeshke Darande, o grupo ficou conhecido em 2021 por sequestrar estações de combustível no Irã, exibindo mensagens zombando do governo em painéis eletrônicos.
Em 2022, ele voltou aos holofotes após supostamente causar um incêndio catastrófico em uma siderúrgica iraniana usando malware para manipular sistemas industriais e literalmente derreter aço até o ponto de colapso.
Diferente de grupos convencionais de cibercrime, o Predatory Sparrow não busca dinheiro. Ele busca impacto. Busca desmoralização pública. Busca desestabilização estratégica.
E tudo isso com métodos extremamente sofisticados: engenharia social precisa, implantes avançados, destruição calculada e, acima de tudo, mensagens cuidadosamente construídas para o mundo ver.
Por que Bancos e Cripto?
Atacar o sistema bancário é atingir o coração da confiança de um país.
Atacar as criptomoedas a única válvula de escape do povo iraniano contra as sanções do Ocidente é quebrar o futuro.
Os alvos foram escolhidos com cirurgicamente precisão:
Banco Sepah: um dos principais braços financeiros do IRGC (Guarda Revolucionária do Irã), listado em diversas sanções internacionais por financiar ações militares e terrorismo.
Nobitex: a maior exchange de cripto do Irã, com mais de 4 milhões de usuários. Embora seja “oficialmente privada”, documentos vazados e denúncias indicam envolvimento direto com órgãos do governo para contornar sanções usando stablecoins e Ethereum.
Em outras palavras: destruir essas duas entidades seria o mesmo que sabotar tanto o aparato militar quanto o econômico do Irã em uma tacada só.
Como Começou o Ataque?
Os detalhes ainda estão sendo revelados, mas as pistas mostram um planejamento complexo, com semanas ou meses de infiltração silenciosa. O Predatory Sparrow provavelmente iniciou com engenharia social, usando e-mails cuidadosamente elaborados, fingindo ser documentos oficiais ou atualizações internas um clássico spear phishing.
A partir daí, malwares implantados permitiram acesso remoto, leitura de arquivos sensíveis, e mapeamento da rede interna.
No caso do Banco Sepah, acredita-se que tenham usado uma espécie de wiper malware um código que não rouba, mas apaga e destrói irrecuperavelmente os dados.
Na Nobitex, o processo foi mais simbólico. Depois de acessarem as carteiras de hot wallets, os invasores transferiram o equivalente a 90 milhões de dólares em criptoativos para endereços cujas chaves privadas não existem carteiras programadas com nomes como:
0xF***IRGCterroristsE44D0 |